De cabeça para baixo
17.02.04 | Claudia Borralho
Foi assim que acordei daquela viagem alucinante na noite do meu aniversário. Os meus 27 e os 3 do carro. O carro morreu, mas eu sai de dentro dele só com uns arranhões dos vidros. Mas afinal o que é que aconteceu? Acho que ainda não sei... ou melhor não quero acreditar. Um carro atravessou-se à minha frente e eu só tive tempo de me tentar desviar. Virei demais, estava-se mesmo a ver. Perdi o controlo do carro. Bati no carro que se tinha atravessado e depois fui bater no separador central. Foi aí que virei e foi aí que fechei os olhos. A única coisa que me passou pela cabeça foi qual seria a melhor posição para eu não me magoar. Abri os olhos, estava de cabeça para baixo presa pelo cinto, liguei os quatro piscas e comecei a procurar o telemóvel. Estava tudo cheio de vidros, tentei ter cuidado para não me cortar e tirei o cinto. Ouvi uma voz, (descubri mais tarde que era a Irina) perguntava se estava bem e eu respondi que sim, depois perguntou-me se conseguia sair... Só aí percebi que sair dali seria uma óptima ideia. O rádio continuava a tocar como se nada se tivesse passado. Desliguei o carro e carreguei no botão para abrir as portas, não ouvi nada e resolvi sair pela janela do passageiro (que por acaso até era a que estava mais destruída). Mais tarde, quando olhei para o carro não consegui perceber como saí dali e por ali. Parece-me um espaço tão pequeno... De vez em quando ainda vou à janela à procura do meu pópó... mas ele não está lá. Não, não foi um pesadelo, aconteceu mesmo.