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a vidinha como ela é

(e uma mãe que mete a mão em tudo) por Claudia Borralho

a vidinha como ela é

(e uma mãe que mete a mão em tudo) por Claudia Borralho

terapia

27.08.07 | Claudia Borralho
Acordo com as mamas desconfortáveis de tanto leite. Estão tão grandes que o que me acorda são as dores nas costas, insuportáveis, devido às más posições a dormir por causa destas mamas tão cheias que nem consigo baixar os braços convenientemente.
Depois o bebé mama. Às vezes estão tão cheias que chegam a doer e tenho mesmo que tirar o leite com a bomba.
Fico melhor mas não por muito tempo. Agora a mamada não parece satisfazer o bebé. Será possível que eu já não tenha leite? Mas ele não quer mais leite? Esteve aqui tão pouco tempo. Bom... ele não parece estar a resmungar. Deve ter querido comer pouco.
Chega a próxima mamada... agora não está mesmo satisfeito. Eu bem tento que pegue na mama, mas ele não quer e larga logo a seguir. Chora zangado. E mais uma vez tento que ele pegue na mama. Apalpo-a. Parece ter leite? Está molinha? Não o quero a chorar. Passo-o para a outra mama. Agarra-se a ela desalmado, mas dura pouco tempo. Já a largou e está outra vez zangado. Acabo por lhe oferecer um biberão de suplemento. Ele bebe o que lhe apetece e termina com um sorriso.
Eu é que não sorrio por dentro, ou melhor, fico felicissima e muito aliviada do ver satisfeito, mas pouco depois começa a remoer. Porque tenho tanto leite ao acordar e depois me falta??? Porquê tanto desconforto se depois lhe tenho de dar suplemento???

A roupa é outro problema. Durante a gravidez são só atenções para a mãe. Assim que o bebé nasce a mãe não passa para segundo plano. A mãe simplesmente deixa de ser importante. Toda a gente vem com uma prendinha para o bebé. Muita roupinha para o bebé. Ele precisa é verdade. E tantas, tantas roupinhas que lhe deram e ele nem as vai chegar a vestir. Ou porque são muito grandes, ou muito frescas, ou muito quentes.
E para a mãe? A mãe também não tem o que vestir! Porque não trazem uma prendinha para a mãe?
Estou tão cansada de não ter o que vestir. De colocar todos os dias as mesmas tshirts desengonçadas. De não conseguir vestir o que quero. De procurar qualquer coisa gira no guarda-roupa e nada me servir. Não me servem as calças, não me servem as camisolas, não me servem as camisas, nem as tshirts, nem os soutiens!

E também já não posso ouvir as avós. Faz-me confusão a capacidade que as avós têm para deixar o bebé a chorar desesperado. No fim de semana fizemos visitas a amigos, já a pensar que se calhar lá voltariamos com um bebé irritado e a chorar superestimulado para casa. E afinal não, o bebé ficou feliz da vida.
E no entanto, bastam umas horas (às vezes até só uns minutos) com uma avó, para o bebé ficar zangado e vermelho de tanto gritar.
Nós parvos, tentamos ajudar o relacionamento avó/neto. Quando o bebé começa a estar cansado, falem baixinho com o bebé (o gabriel assusta-se com todos os sons altos), falem-lhe devagarinho, assim calminho.
As avós também não sabem reconhecer que já não têm a idade de antes. Estão convencidas que o neto é o filho ou a filha que tiveram há trinta anos atrás. O bebé já lhes pesa nos braços e em vez de o darem a outra pessoa continuam a agarrar-se a ele e tentam sentá-lo em cima de uma mesa ou em cima do sofá. Depois o bebé cai, escorrega por ali abaixo, assusta-se e chora desalmado.
Querem à viva força trocar-lhe a fralda em cima de uma mesa ou em cima do sofá, por mais que digamos que seja no chão. Do chão ele não cai.
Teimam em abaná-lo dum lado para o outro quando ele já grita de tão estimulado. Querem sempre ser elas a tentar acalmá-lo ao colo e acabam por desistir com ele já a berrar desesperado (obrigadinha, agora já tenho o bebé em sofrimento e vai ser mais difícil acalmá-lo).
Acabam muito ofendidas com o que lhes dizemos. Eu já te criei a ti! Eu já criei muitos meninos! Há trinta anos já fazia assim!

Há trinta anos não haviam cadeirinhas para o carro. Há trinta anos nem sequer era obrigatório o uso de cinto de segurança. Há trinta anos as camas de grades não tinham uma distância regulada entre as grades. Há trinta anos era moda dar leite de lata. Há trinta anos chamavam ao colostro aguadilha e esperavam pelo leite a sério para dar de mamar aos bebés.

Daqui por outros trinta anos as coisas vão concerteza ser muito diferentes do que são agora. E ainda bem, é um sinal de evolução. Mas chateia-me pensar que daqui por trinta anos eu vou, se calhar, acabar como as avós do gabriel.


Nota: este post não tem comentários, isso quer dizer que não é para comentar. Se realmente acharem que têm mais qualquer coisa a dizer mandem um mail, não comentem nos outros posts.

o meu leite

24.08.07 | Claudia Borralho
Não me interessam todos os factos e argumentos sobre a produção de leite, aqui o que interessa é apenas esta mãe e filho e as mamas da primeira.
Tal como cada bebé é único e até têm umas vezes mais fome outras menos, cada mãe também é única e o seu corpo e produção de leite únicas também.

Eu acordo TODOS os dias (TODOS!!!) com as mamas carregadinhas de leite. Estão tão cheias que é desconfortável e às vezes até um pouco doloroso.
É tanto leite que na primeira madada o Gabriel demora entre 30min a 40min a esvaziar uma só mama. Depois ainda lhe ofereço a outra que está ali à espera a latejar de tão cheia. Só mama uns 5 minutos e chega-lhe. Fico com uma mama vazia e outra mantém-se a rebentar.
Finalmente chega a segunda mamada do dia, finalmente aquela mama é esvaziada. O bebé bebe dum lado e do outro e eu lá fico mais confortável com as mamas equilibradas.
Terceira mamada do dia - mama dos dois lados, geralmente 20min dum lado mais 10min do outro. Quarta mamada igual à terceira mas já menos demorada, muitas vezes é 10min mais 10min.
Chegamos à quinta, ele agarra-se ao mamilo e ao fim de 5min a 10min deslarga e faz um choradinho. Volto a colocá-lo na mesma mama. Ou tenta sugar mais qualquer coisa e lá fica 1min ou 2min ou deslarga imediatamente e o choradinho torna-se em irritação maior. Passa para a segunda mama. Lá fica uns 10min, deslarga e irritação grande. Isto é fome, isto são mamas vazias e bebé com fome.
Na sexta mamada a cena repete-se. Agora depende se o bebé já estava a dormir ou não. Se estava acordado vai ficar ainda mais irritado pela falta de leite. Se já estava a dormir, ele quer é dormir e o pouco que estiver na mama chega-lhe.

Eu não vou dar leite de lata ao puto enquanto houver leite na mama. O bebé é um indivíduo e tem direito a estar chateado, irritado e aborrecido e isso não ter nada a ver com fome.
Da mesma forma eu também não vou deixar o meu bebé a chorar de fome enquanto espero que a mama encha mais qualquer coisinha.

Sim, eu sei que quanto mais a mama for estimulada e vazia, teoricamente produz mais leite. Isso não está a acontecer. Não só o bebé não suga por muito tempo na mama vazia, como a experiência do tirar leite com a bomba também não resulta.

Eu comecei a tirar leite para guardar para levar para a creche. Se acordava com as mamas tão cheias é porque tinha leite suficiente para guardar. Aliava o útil ao agradável e já não aguentava as mamas a rebentar tanto tempo.
Só que quando tiro leite chego à quarta mamada do dia e o bebé esvazia a mama e chora com fome. Isto é porque o meu corpo não produziu mais apesar de ter sido estimulado a produzir pela bomba. E se calhar eu até posso estar a fazer qualquer coisa mal, mas se estou não sei o que é e eu faço o melhor que posso.

Acredito que isto tenha a ver com o facto do bebé estar a demonstrar estar preparado para se iniciar nos sólidos e ao começar a substituir mamadas por uma refeição de sopa, por exemplo, o meu leite já será suficiente para o dia do bebé, e já não será necessário o suplemento.

Apesar da OMS recomendar o aleitamento materno em exclusivo até aos 6 meses eu acredito que é o bebé que nos mostra quando está pronto a passar para a fase seguinte. Seja isso quando ele tem 4 meses, ou 5, ou 6.


E finalmente, o meu bebé não tem horários. Ele acorda de manhã à hora que quiser e depois costuma fazer um intervalo entre 3h30 a 4h e depois faz intervalos geralmente de 3h e ocasionalmente de 2h30. Se até às 21h só tiver mamado 5 vezes e adormecer eu acordo-o às 23h, antes de me deitar, para ele mamar mais uma vez. Faço isto porque já notei que se ele não mamar esta sexta vez no dia ele acorda um pouco mais cedo e já a chorar de fome (e também o ouço a lamuriar-se sem acordar).
Quando acorda de manhã ele está sempre bem disposto a sorrir, nunca acorda a chorar.

fundamentalismos

24.08.07 | Claudia Borralho
Cada vez tenho menos paciência para fundamentalismos.

Antes de engravidar comecei a ler os mails do grupo das doulas. Aquilo fazia todo o sentido para mim. As mulheres sempre pariram e sempre alimentaram ao peito os seus filhos, como tal têm total capacidade para o fazer.
Mas sinceramente para o fundamentalismo de que o parto humanizado é em casa e mais nenhum ou que nenhum bebé precisa de suplemento, para isso já não tenho paciência. Aliás cada vez que ouço o já afamado "a natureza é sábia" até me dão umas voltas ao estomâgo.
A natureza é fantástica mas há sempre excepções à regra. Há mortes in utero, há bebés enrolados que pura e simplesmente não nascem pela porta da saída ;) Há mamas que secam, há bebés que não estimulam adequadamente as mamas e como tal não se produz leite. Há mil e uma variáveis que podem acontecer na gravidez, no parto e na amamentação.

Eu sempre quis amamentar em exclusivo, e se possível até aos 6 meses, como recomenda a OMS. O meu filho começou a demonstrar sinais de fome e a minha mama não tinha leite suficiente para o satisfazer. Eu dei-lhe suplemento.
O meu filho é irritado por natureza, e também não gosta de dormir de dia, nestas coisas sai a mim. Compreendo perfeitamente que ele seja assim, embora os seus gritinhos constantes me deêm dores de cabeça descomunais ao final do dia.
Por mais que eu diga e saiba que não é fome, sobre a irritação diurna do puto vem toda a gente dizer que ele tem é fome e que lhe dê suplemento.
Quando eu lhe noto a fome e lhe dou suplemento vem logo a outra facção dizer-me que devo estar a fazer qualquer coisa mal e que as mamas têm sempre leite.

Enfim... detesto fundamentalismos!